Arte de graça!?

Olá permacultores, curiosos, artistas e turistas,

estamos em toda fervura deste momento que o calendário gregoriano insiste em chamar de final de ano, no qual temos festas, gastos, presentes e muito blá blá blá.

Repetições e chatices a parte eu vim aqui hoje para tratar de um tema que não é completa novidade no ZD.

Não sei o quanto mencionei por aqui, mas minha área de formação é em audiovisual. Sou um tanto familiarizada com o campo das artes e cultura e ultimamente tenho me deparado com muitas questões, nem só de minhas experiências, mas de amigos e colegas e senti necessidade de colocar isso pelo menos em texto.

Vejamos a seguinte figura galera, uma pessoa que trabalha com imagem, texto, musica e que não faça isso de maneira puramente técnica (nenhum desmerecimento aqui, é que não costumo ver nenhum técnico trabalhando de graça, geralmente são uns dos primeiros serviços que as pessoas contratam ), são pessoas que estudaram, treinaram e foram atrás de experiência antes de lançar seu trabalho mundo e na frente dos olhos do consumidor.

As noites mal dormidas, as ideias testadas, as falhas do caminho, o investimento em material, referências, que nosso colega artista coloca na lista e cumpre aos poucos para que o quadro, fatia de bolo, musica, etc. cheguem até um evento ou outro espaço e comuniquem alguma coisa aos que por ali passam.

Geralmente os seres que chegam até estes eventos e espaços (eu disse Geralmente!) são sobreviventes, são aqueles que resistiram as tentações da segurança (alguém por favor me explica o que isso significa no nosso mundo caótico e finito), que foram confundidos com técnicos ou prestaram estes serviços para manterem os seus, afinal roteirista não é o cara que formata cena com diálogo, fotógrafo não é o sujeito que aperta botão de câmera e da muito mais trabalho fazer sabonete com ingredientes naturais e de modo artesanal do que ser uma empresa master blaster botar uma maquina para correr e fornecer ao consumidor merda em barra que pode fazer mais mal a sua saúde do que qualquer benefício que prometa.

Então a galera que não produz, que não desenvolve arte, cultura e esboça um desenho no final de semana, ou um texto no guardanapo sem a intenção de publicar ou levar adiante, esquece que os dias em que alguns estão na mesa do computador da empresa e outros estão cumprindo ponto por outros cantos, tem gente que esta virando noite ou trocando dias “úteis”por final de semana para poder oferecer aquele objeto ou proposta de livro, filme, show, pintura, artesanato que você não quer valorizar.

Daria para a arte ser de graça? Acredito que sim. Em uma sociedade aonde as pessoas cultivassem seu próprio alimento, tivessem boas vias e alternativas para transporte, compartilhassem mais de tudo (serviços, bens…) tivessem então melhor qualidade de vida e não tivessem que pagar e caro para sair de suas casas ou permanecer nelas, sim, provavelmente a arte poderia ser gratuita, mais acessível á todos tanto para consumo, como para produção.

Mas neste sistema em que vivemos… sem condições! Afinal, parece justo ã vocês que alguém trabalhe horas semanais, tenha que ajustar sua própria disciplina, persistir em seu trabalho em diversas etapas e no fim do mês entregar tudo para quem escolheu pagar mais no restaurante cool ou chique, passear no shopping para comprar o que logo vai ficar obsoleto, adquirir produtos de grandes coporações que não tem a menor intenção de cuidar de seu corpo ou saúde e não pode investir um pouco em algo do artesão, realizador, etc.

Bom, se preferem assim, então que comece a diversão com o som de portas rangendo sem melodia e que a falta de histórias inspire os dias mais intensos de trânsito e decepções. Porque admitam ou não colegas, todos consomem arte como consomem sabonetes, tem gente que se alimenta mal, mas tem tv, gente que passa horas na internet vendo fotos, vídeos, musica, cada galera pagando um rim para ver seus artistas favoritos… não tem sentido querer que seja sem custo. O que vão achar se eu solicitar uma consultoria só para conhecer seu trabalho? Fizer um curso e barganhar o valor na secretaria? Ou mandar uma mensagem dizendo que seu serviço é muito legal, mas na hora h eu prefiro contratar um desconhecido só porque ele é mais padronizado e tem um cartão mais quadradinho.

Bom isso é exatamente a mesma coisa do que achar bacana o artesanato na feira e gastar mais no shopping. Pagar para uma gravadora mega escolher uns 2 artistas para serem queridos por um tempo e deixar o independente penar no streaming porque o lance dele deveria ser gratuito, e preferir ajudar a manter as caras salas de cinema multiplex com guloseimas caras em filmes que já se pagaram no estrangeiro a tempos e o cinema nacional que se f…

Acho que vale uma analise mais cuidadosa e o crowdfunding esta ai para ajudar a mostrar que podemos ter mais poder de escolha sobre o que queremos consumir em qualquer esfera.

Agora para terminar, vale dizer que eu acredito que artista precisa ser valorizado e bem pago sim, e trabalho social também! Agora se alguém faz isso pelo dinheiro então é comerciante. Artista sempre começa por amor, inspiração, paixão, causa, quem quer saber do $$ pode pular para outra área que esta não faz sentido.

Sobre nics2020

tentando transmitir sustentabilidade, equilibrio no consumo e rock'n roll em meio ao caos urbano e o incrivel mundo das corporações... Roteirista audiovisual, ficcionista com 6 nanowrimos concluídos ;) empreendedora da plataforma Radiko e entusiasta de jornadas de aprendizagem autônoma, se for com mochila nas costas, melhor! http://www.radiko.com.br/ http://meencontrenacontramao.tumblr.com/

Deixe um comentário